segunda-feira, 10 de maio de 2010

Adolescência


Adolescência que não voltas
Nas revoltas desta vida
Todas estas contravoltas
Largam a alma entristecida

Hoje eu não sou o que poderia ter sido
Sou este compasso que me guia
Por este solo empobrecido
Onde sou o que não queria

O que outrora nem sequer ideei
Nos tempos de lhe por as mãos
Presentemente sei o quanto divaguei
Por carência de muitos nãos

Vamos Lisboa é p’ra frente
Camaradas é a minha nostalgia
A gente là ia contente
Mas findou essa magia

Agora a vida não tem essa cegueira
Está tudo a nu e limpo no que se avista
Agora estar jovial não é brincadeira
Mas isso já vai do ponto de vista

Quase nunca sei se estou feliz
E se sei não é felicidade
É quando me encontro infeliz
Pois não sou feliz de verdade

Ocorre sempre uma ausência
Uma carência uma derrota
Um falso amor ou demência
Na vivencia que a alma lota



sexta-feira, 7 de maio de 2010

O sonho que eu componho


Sinto que cresço com um sonho
E que esse sonho cresce comigo
Um devaneio que è meio tristonho
E mesmo assim o abrigo

È para mim asilo ou refugio
Que ao coração dá guarida
Quando se abate o suplicio
Desta alma ou desta vida

Com um caminhar abstruso
Vagaroso, silencioso e lento
Passos do um ente confuso
Passos de um leve vento

Passos que dou sem saber
Mas a carência me ensinou
O homem a sós pode aprender
Mas sozinho nunca conquistou

Solidão é nada
Nada é a solidão
O ser que tem a alma amparada
Tem como amigo o coração

Mas é insuficiente para conquistar
Coisas que a solidão repele
E para o homem se dignificar
Também depende da sua pele

Da face, das mãos dos braços
Dos pés, perna e narina
Todos no lugar inviolados
Pela vida que os gemina

Esta é a nossa realidade
Por isso eu vivo este sonho
Isentando-me da verdade
Destes versos que componho

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Poesia



É vê-la do nada, do que nunca vem
E recebê-la como a deusa mais bela
Sem a pensar, só e sem ninguém
Tê-la e por um pequeno tempo, só vê-la

Sem a sentir, sem a tocar
Vem do ar a flutuar do nada
Vem de leve, vem sem parar
Manchando leve, a folha esbranquiçada

Quais mãos a vida lhe dão
Se a vida delas findará um dia
Qual cérebro lhe impinge a informação
Se a sua informação o repudia

Porque continuo, o que já está acabado
Só existe a luta não há vitória
Vale a glória, de quem já foi enterrado
E morreu sem saber a sua história

De tudo aquilo que eu vejo
Tudo são panos que os olhos me cobrem
Ver além deles será talvez um ensejo
Porque em vida, nem tudo, meus olhos descobrem

Recebê-la é receber-me no meu poema
Pois sou o que resta, se não a não consigo ver
Talvez se esconda sobre uma rima
Sem nunca se dar a conhecer

Como eu que acompanhado, me escondo
Até mesmo na companhia de ninguém
Como se a mim me fosse sobrepondo
A ponto de me esconder de mim também

E quando dou conta, só lhe dei o nome
Porque é belo como o que não existe e queremos
Vamos pedir que o mundo se ame
E se virmos a poesia, pois a morte extinguiremos

Vem do nada, porque o nada enche muitos corações
Um vazio que meu ser sobrecarrega
Cada um no mundo vê as suas aptidões
E quem as não vê, anda de alma cega


Deste nada eu me satisfaço
Pois fui agraciado com a vida
Sou feliz por ter um abraço
Tudo o resto é coisa apetecida

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sinto-me fechado num círculo



Sinto-me fechado num círculo
Envolvido em quatro paredes desalinhadas
Tudo á minha volta, nada mudou
Nem tão pouco eu, que ainda aqui estou
Se me levanto, meus passos são as pegadas
Marcadas num espaço, mesmo se eu der um pulo

Bem sei que a liberdade, vive aqui
Mas liberdade, é sentir o vento passar
Ver o sol raiar, e a lua subir
Abrir os braços ao mundo e num grito se exprimir
O ponto máximo da liberdade, eu insisto é sonhar
O do ser humano é que é alcançar

Fechei-me num círculo, pouco maior do que eu
O qual expandi p’las galáxias a fora
E não encontrei palavras, para descrever
Tudo aquilo que por lá eu pode ver
Naquele pequeno segundo, daquela hora
Algo em mim cresceu ou algo morreu

Lá no fundo estive fechado neste balão
Eu fechei a porta, eu tenho a chave
Mas posso abri-la com o coração
Assim como as portas de onde eu nunca estive

sexta-feira, 20 de março de 2009

A folha sem linhas




Uma folha em branco está sozinha
E a solidão, é coisa que ninguém quer
Quatro rimas soltas, sem linha
Dão asas a folha para viver

Segue vida, segue poema
E que seja só a folha, a tua companhia
E se, o gostar dos outros, for um problema
Pelo menos á folha, tu deste alegria

Quem não gosta é só por não gostar
E talvez só goste, quem o pode sentir
E quem o escreve, escreve sem pensar
E nunca pensa, que não pode existir

O existir só está na folha
Tudo mais se foi, logo após se escrever
O existir é alegria que se sonha
E quando não se sonha, já não, se pode viver

E não vale no mundo coisa alguma
Que pague o valor, da minha fantasia
E mente sonhadora, só tenho uma
Que me dá alma e faz feliz, no dia a dia

E quando não é de alegria, o meu pensar
Volto e releio a folha, a sorrir
E sinto a alegria que dela está a brotar
E vejo que para além de ser poeta também posso existir

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A minha evolução




Troca a caneta pelas teclas
E teclo, teclo muito sem parar
É devagar mas o mais rápido, que posso
Já tirando as letras, que tenho de apagar

P’ra mim sou rápido, mas sei que sou lento
O pensamento tem a mesma lentidão
Paro em reflexão e paro para escrever
Mas só quando morrer, pára a alma e o coração

Um lento andar, que não fica quieto
Sempre irrequieto, por não ter descanso
Um passo para trás e dois passos para a frente
No meu depressa vou devagar e não me canso

Sinto a falta da caneta, do toque dela em minha mão
Eu não me canso porque de cansaço eu vivo
Sei que o não vou reviver, no meu caderno fiel
É só papel da imaginação, pela qual eu me motivo

Será uma introspecção, será por ai um poema
Um dilema meu, por não saber bem o que sou
Mas, de linha a linha, de letra a letra, de verso a verso
Imerso, posso submergir com as asas de quem vou

Não sei se sou simples, ou se sei ter simplicidade
Ou se a simplicidade, é coisa que eu não tenho
Assim com não tenho a caneta, entre os dedos
Com a qual sem medos o pensamento, nunca retenho

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Brilho, só de luz



Eu queria ser uma mente brilhante
Mas só acendo a luz, no escuro
E depois, tudo é um diamante
Apenas eu, não tenho futuro

Eu sonho, dia e noite, eu sonho
Nunca acordo, para os viver
E este sono já é tão velho
Como com quanta idade, se pode morrer

Não se pode dizer que é muito, nem pouco
Apenas se pode dizer que é uma vida
Seja ela a mente de um grande louco
Ou a de uma morte precoce, atingida

A minha, a minha voa por aí
Nunca atinge uma verdade
Entre tanta coisa que vem e vai
O que fica é só saudade

Nesta viagem escrevo para mim
Não tenho a quem mais dar
E mesmo sem nunca atingir o fim
Sei que um dia vai chegar

Nesta viagem, não me falam inglês
Nem dizem que eu o falo bem
Eles dizem que falo bem o francês
Apenas porque eu falo com eles também

E meto apenas as coisas no lugar
Pois sou eu o forasteiro
E por mais que me possa indignar
Nunca estou, em primeiro

Fico quieto no meu canto
A minha vida é apenas um comboio
E sigo em viagem num vagão solto
E apenas com os pés me apoio

Eu dou passos e tantos em vão
Pois este comboio é indomável
Não tem o pedal do travão
O que o torna imparável

Viver é só viver e pronto
Como a locomotiva leva tudo p’ra frente
E todo o homem é tonto
Se pensa que é diferente

Nós somos a locomotiva
Vamos p’ra frente e levamos tudo atrás
E a única coisa positiva
É a entrada nela de pessoas

Em tantas que saem e não voltam
Outras tantas acabam por voltar
E tantas que nunca lá foram
Mas vieram para ficar

Segue comboio, segue a linha
Já que o fim eu não o vejo
Não tens travão, nem rodinha
E só viver é meu desejo

Não sei se ele anda a carvão
Ou se segue, a todo o vapor
Só sei que bate um coração
E viaja muito, pelo amor

Ó sonhador, sonhador, que eu sou
Cada viagem é um paraíso
Nem de todas as paragens, gostou
Mas nunca perdeu o seu sorriso

Tragam-me água da mais pura
Que não me sacia qualquer sede
A minha sede é só de aventura
E de ser poeta, nada me impede

Tenho em mim, loucura entranhada
E de serenidade, tenho um poço cheio
Embarco na praia já navegada
Sou agora um barco que não tem freio

Ao sabor do vento, quase que flutuo
Mas o meu pensamento esvoaça
E vem sempre a razão, porque o continuo
Pois se o barco pára, é a desgraça

No mar alto sem ver a costa
Perdido no epicentro do oceano
Qualquer bem que se sinta
Tem o mesmo sentir de leviano


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

No meio da vida



Por vezes, pensamos ser nós
Aquele que sabe e tem a razão
Não se dignando a desatar certos nós
E ainda a pensar, que tem razão

Continua, continua assim
Não vais mais longe se o fizeres
Outrora até eu era assim
Mas só é teu, aquilo que tu fizeres

É feio, eu estar a falar disto
Que muitos esperam alguém morrer
E ainda mais feio, é os pais, no meio disto
Eu nunca esperei, ver ninguém morrer

A luta, o trabalho, a vida tudo cansa
Mas não fazer nada é não existir
Bendita a alma que nunca se cansa
E faz coisas p´ra poder existir

A realidade, essa nunca existe
Há sempre mais algo que vem
Algo que p´ra muitos não existe
E p’ra outros é um vai e vem

Viver, viver é uma festa
Sem balões e musica só convidados
E a nossa verdadeira festa
É aquela em que não somos, os convidados

É nossa porque a demos
De corpo, alma ou coração
Com coisas boas que outrora demos
A este mesmo ao nosso coração

Ser poeta é sorrir sem saber
E nunca saber o que vai sair
É escrever sem o saber
E pela porta da frente sair

É ver a vida, e olhar o mundo
E perceber o erro humano
Escrevê-lo e dá-lo ao mundo
É só um pensamento de um humano

Lutar comigo é viver
E querer sempre ganhar
Mas realidade do meu viver
É só perder e não ganhar

O poeta ficou no meio
E nunca atingiu o seu fim
E este poema fica a meio
Mas é este o seu fim

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

No fim tudo se equece



Quando não sei o que escrever
Escrevo sobre o que não sei
E tudo o que eu sei é querer
E muita vontade de aprender

Aos que me dão o bom dia
Eu respondo com educação
O outro corpo que só procria
Levando consigo luxúria

Não me desinquieta a alma
Por onde ele passa eu já passei
Apesar de nunca ser o da fama
Sou aquele que o mundo ama

Ó, que não me conheçam
Que ao passar por mim olhem o chão
E se me olharem, de mim se esqueçam
Pois comigo nada aprenderam

Mas eu aprendo as diferenças
Que eles carregam no olhar
O seu andar de burguesias
Onde pensam viver perto do céu
E correm, correm com fantasias
De que tudo a volta é seu

Não sei, mas também não quero saber
Só sei que nunca sei demais
Ou é a mais simples forma de enlouquecer
Com a mediocridade do que posso ver

Talvez um doido, eu seja, talvez
Mas como doido continuo
Sou apenas um homem, alguém me fez
Se foi Deus, mais que ele a minha mãe sabe os porquês

Nasci e fui criado
Agora o criado sou eu
E muitas vezes me senti maltratado
Por de mim não ter cuidado

Que não me vejam, que não me olhem
O verdadeiro valor sou eu que o dou
Que não se lembrem de mim, nem me encontrem

No fim todas as coisas se esquecem

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Tudo ao contrário



Ver tudo ao contrario
Atrofiar com o mundo
E sem querer, querer tudo

Acender uma pequena chama
Com o bafo de um simples sopro
E alimentar-me só de fogo

Sentir um ardor, mas sem dor
Que apazigua nestas linhas
Por onde passam as letras rainhas

E lá no fundo nada sentir
E lá mais no fundo sentir só isto
Não saber se o continuo, ou se desisto

Mas isto está entranhado
Isto acaba mas não finda
E só Deus sabe o que vem ainda

Os meus passos são o caminho
Que seguem na estrada da vida, perdidos
No seu lento andar de si esquecidos

Eu sou mas o quê não sei
E se eu não o sei, quem o poderá saber?
Se de tudo o mais certo e só morrer

Então vou, mas vou sem andar
E sem nunca lá chegar, só vejo a meta
E talvez eu morra sem ser poeta

Isto não é um desejo
É apenas um buraco no asfalto
Onde para não cair, salto